Entidade que representa o setor destacou que para uma análise “mais assertiva”, prefere avaliar cada detalhe técnico das medidas, que ainda não foram divulgados A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) declarou que defende a redução das alíquotas de importação de matérias-primas e insumos que afetam o custo de produção no país. Em nota, a entidade destaca produtos que não foram contemplados no anúncio dado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) nesta quinta (6/3), como resinas plásticas, embalagens metálicas e glúten.
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A Abia também citou o óleo de palma em seu posicionamento, insumo que teve a cota de importação ampliada de 65 mil toneladas para 150 mil toneladas. A entidade participou da rodada de reuniões que definiu medidas regulatórias e tributárias, como zerar o imposto de importação de vários itens, como café, açúcar e carnes, mas fez ressalvas sobre os possíveis efeitos do pacote.
“Estamos avaliando, junto às indústrias associadas, o impacto das medidas anunciadas pelo governo sobre o setor. No entanto, para que essa análise seja mais assertiva, aguardamos o detalhamento técnico de cada medida, ainda não divulgado”, diz o comunicado.
Em fevereiro, o presidente da Abia, João Dornellas, afirmou, durante a divulgação do balanço anual da entidade, que o órgão faria recomendações ao governo para baixar os custos de produção. Entre as medidas, estaria a redução do imposto de importação de material de embalagens, o que não foi divulgado ainda pelo governo.
Dornellas também afirmou que seriam necessários investimentos na infraestrutura de transporte para acelerar o trânsito da safra deste ano, que pode chegar a 325 milhões de toneladas. “Existem coisas que o Brasil pode fazer para reduzir o preço dos alimentos. Quanto mais rapidamente essa safra sai do campo para chegar na indústria, e da maneira mais barata possível, mais afeta o custo dos alimentos”, afirmou.
O representante das indústrias ainda indicou que qualquer medida para reduzir o preço da energia elétrica e do diesel é bem-vinda, mas rejeitou a possibilidade de subsídios. “Não seria bom para a economia”.
Em seu último balanço, a Abia aponta que eventos climáticos cada vez mais extremos e recorrentes — que encarecem as matérias-primas — e o aumento nos custos de produção estão entre os principais desafios para a indústria conter a alta nos preços de produtos alimentícios.
A entidade já prevê que o encarecimento do cacau deve afetar o preço dos ovos de Páscoa, por exemplo. O valor do insumo registrou a maior alta de 2024, com 189% de aumento, seguido pelo café (140,3%), que também é vulnerável às ondas de calor. Na sequência, leite (22,6%), milho (9,3%) e trigo (9%) completam a lista das cinco maiores altas registradas.
“O custo foi altíssimo para a indústria. Uma parte teve de ser repassada para o preço, mas não a totalidade”, disse Gustavo Bastos, presidente do conselho diretor da Abia. A produção da matéria-prima do chocolate tem sido afetada no Brasil por secas intensas e prolongadas, seguidas por chuvas excessivas em curtos períodos.
Além dos ovos de Páscoa, a inflação dos ovos de galinha tem pesado no bolso do consumidor. O preço é afetado pela alta nos custos de produção, provocada pela valorização do milho, que serve de ração, e pelo aumento das temperaturas, que afeta a produtividade das aves.
O tema foi abordado por Alckmin durante anúncio de que o governo vai zerar a tarifa de importação para alguns insumos, como o milho. Segundo Alckmin, esta medida deve ter um “grande reflexo no custo dos ovos e da proteína animal”. Carne, café, açúcar, óleo de girassol, azeite de oliva, sardinha, biscoitos e massas alimentícias também estão incluídos na alíquota zerada
Durante coletiva no mês passado, Dornellas destacou que, apesar do preço elevado dos ovos, o fenômeno não é novo. “Todo ano, chegando a época de Quaresma, o ovo sobe mesmo. A Associação Brasileira de Proteína Animal já se pronunciou a respeito disso, é uma situação muito sazonal”. O representante da indústria de alimentos aposta que o valor das cartelas deve cair de fato após a Páscoa.
As exportações para os Estados Unidos cresceram devido à crise da gripe aviária, que levou ao abate de um grande número de aves naquele mercado. Este fator também pressiona os preços no mercado brasileiro.
O relatório da Abia destaca que o custo médio de produção de alimentos industrializados subiu 9,3%, enquanto a inflação de alimentos industrializados medida pelo IPCA foi de 7,7%, em 2024. O presidente do conselho diretor da entidade argumentou que estes números indicam que a indústria absorveu parte dos custos para proteger o preço. “Já existe uma tensão nessa equação para a indústria, que tem absorvido custos. A indústria está disposta a cortar na margem para garantir que continue vendendo”.
Segundo Bastos, além de ajustar suas margens para reduzir o impacto no preço, as empresas buscam essa compensação de outras formas, como investir para elevar o volume de produção. De acordo com o balanço da entidade, o aumento do imposto de importação sobre resinas plásticas e os reajustes no custo da energia elétrica (+10%), do diesel (+7%) e do gás natural (+6%) pressionaram o setor em 2024.
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