A Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé) realizou, no dia 14 de agosto, o 7º Fórum Café e Clima, em Guaxupé/MG. De antemão, o encontro apresentou uma análise detalhada das condições meteorológicas registradas no último ano agrícola, seus impactos na produção e as perspectivas para a próxima safra de café.
Primeiramente, o evento contou com as participações de Guilherme Vinicius Teixeira, coordenador do Departamento de Geoprocessamento da Cooxupé. Do agrometeorologista e sócio-fundador da Rural Clima, Marco Antônio dos Santos. E, do professor doutor José Donizeti Alves, da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Atrasos, perdas e qualidade afetada
Guilherme Vinicius Teixeira destacou em sua palestra que a safra atual começou a se formar em 2023, mas sofreu atraso na florada devido à demora no retorno das chuvas. Elas só vieram em meados de outubro de 2024, após longo período de estiagem. Porém deste mês até dezembro, as lavouras mostraram expansão dos frutos. Entretanto, a redução das chuvas entre fevereiro e abril, fase de granação do café, prejudicou o ganho de peso e a densidade dos grãos.
“O rendimento desta safra não está tão bom. Ou seja, o produtor está gastando mais café colhido para produzir o mesmo volume beneficiado”, explicou.
Ainda em relação à safra 2025, Guilherme disse que o déficit hídrico prolongado também elevou a queda de chumbinho. Também foi constatado maior porcentagem de café moca. Conforme o especialista, esses grãos surgem quando apenas uma das lojas do fruto é fecundada ou quando uma delas perde energia para outras partes da planta.

Safra 2026 na área de atuação da Cooxupé
Para 2026, o cenário é desafiador. Guilherme ressaltou que o atraso das chuvas reduziu o crescimento dos ramos, limitando o potencial produtivo. Lavouras de sequeiro registraram média de 11 nós e as irrigadas, 14.
Além disso, eventos de granizo e geada afetaram áreas da média mogiana paulista e do Sul de Minas. Todavia, a colheita de 2025 ainda acontece em algumas regiões. Segundo Guilherme, os frutos colhidos já apresentam botões florais que dariam origem à safra de 2026.
“Portanto, é cedo para falar em volume, mas os impactos já são certos”, destacou.
Cenário climático favorece 2027
Por fim, Guilherme comentou que o cenário para 2027 tende a ser mais animador. A previsão de chuvas antecipadas, diferente de 2024, pode favorecer um ciclo vegetativo mais longo e produtivo. Contudo, as condições climáticas ainda precisam se manter estáveis para confirmar essa projeção.
Previsões climáticas e a influência da La Niña

O agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Rural Clima, avaliou que o ciclo 2025/26 será mais favorável em relação ao anterior. Em 2024, segundo ele, as lavouras enfrentaram mais de 120 dias de seca, com chuvas irregulares e temperaturas elevadas.
Em contrapartida, para este ano, a expectativa é de início antecipado das chuvas, ainda em setembro, cerca de um mês antes que no ano passado. “Isso deve criar um ambiente úmido ideal para a florada”, explicou.
Além disso, Marco destacou a previsão de temperaturas mais amenas e com maior umidade relativa, o que favorece o pegamento da florada. A possível confirmação do fenômeno La Niña, em novembro, tende a melhorar o desempenho da safra.
Porém, o especialista fez um alerta. “Com maior volume de chuvas, principalmente no Sul e Sudeste de Minas e na mogiana paulista, pode ocorrer múltiplas floradas. Isso não afeta a produtividade diretamente, mas compromete a uniformidade e a qualidade do café”, observou.
Manejo fisiológico: atenção às quatro fases do café

O professor José Donizeti Alves, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), reforçou que o ano agrícola exige atenção em quatro fases essenciais: vingamento das flores, chumbinho, expansão dos frutos e granação.
Segundo ele, as condições para o novo ciclo agrícola, de julho até o fim da colheita, são mais favoráveis do que as do ano anterior. Porém, ele alertou que o clima pode mudar repentinamente e comprometer uma ou mais dessas etapas.
“Mesmo com boas previsões, o produtor precisa se prevenir e estar atento em todas as fases”, afirmou. Por isso, Donizeti recomenda antecipar as ações de manejo.
De acordo com o professor, é preciso considerar que cada fase equivale a uma lavoura distinta. “Se o produtor estiver preparado, mesmo diante de uma adversidade climática, ele reduz os prejuízos”, exemplificou.
Ademais, ele indicou o aprofundamento do sistema radicular, com raízes alcançando entre 1,5 e 2,5 metros de profundidade. “Isso aumenta a resistência à seca e reduz o estresse hídrico, criando um ciclo virtuoso de crescimento”, completou.
Estratégia para 2026
Para 2026, José Donizeti reforçou a importância de um manejo preventivo e sustentável. Além disso, ele defendeu práticas que fortaleçam a planta frente às variações climáticas e garantam a continuidade da produção, mesmo em safras mais difíceis.