Taxa de 50% reduz a competitividade do grão do Brasil no mercado americano A tarifa de 50% sobre todas as importações originadas do Brasil, impostas pelo governo Donald Trump para começarem em 1º de agosto, preocupa o setor produtivo do café porque afetaria diretamente as compras do grão brasileiro, maior produtor exportador global da commodity. Os fluxos comerciais do grão teriam que ser redesenhados, segundo analistas.
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Apesar de ainda ser ameaça, as tarifas atrapalham o fluxo comercial, inclusive do que está negociado e deve sair dos portos brasileiros. No curto prazo, a carta de Trump com a taxação sobre o Brasil deve gerar uma valorização dos preços do café sob a ótica de menor competitividade brasileira no principal mercado de destino da bebida, segundo o analista do Rabobank Guilherme Morya.
“O café brasileiro perde competitividade no mercado americano, uma vez que o aumento de custos para os importadores tende a favorecer outros produtores”, disse em nota. Segundo o analista, países como Colômbia, Honduras, Etiópia e Vietnã devem se beneficiar da nova configuração, especialmente em um contexto de estoques globais apertados.
Morya também alerta que o consumo global segue pressionado por fatores inflacionários e econômicos. “Um aumento de 50% nos custos pode agravar esse cenário, tornando o café um produto menos acessível ao consumidor final”.
Contudo, o consumo de café nos Estados Unidos seria fortemente afetado e associações locais devem pressionar para destravar as imposições, como é o caso da Associação Nacional de Café dos EUA (NCA, sigla em inglês), conforme posicionou o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Mesmo com uma possível reorganização dos fluxos comerciais, o Commerzbank aponta que os EUA provavelmente terão de importar café pagando tarifas mais altas. Os efeitos no preço do café negociado em bolsa ainda são incertos. Se os consumidores norte-americanos reduzirem a demanda diante de preços mais altos, isso pode pressionar as cotações para baixo.
Por outro lado, uma valorização do dólar frente ao real poderia aumentar a competitividade do café brasileiro em outros mercados, elevando a oferta global.
Mas, se o mercado americano absorver os custos extras sem queda no consumo, o redirecionamento da demanda pode, ao contrário, puxar os preços para cima.
Importações americanas e estoques globais
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mais de um quarto das importações de café dos EUA vêm do Brasil. Para a safra 2025/26, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) projeta uma produção brasileira de 65 milhões de sacas de 60 kg, sendo 40,9 milhões de arábica e 24,1 milhões de robusta. As exportações devem alcançar 38 milhões de sacas, enquanto a demanda de importação dos EUA é estimada em 23 milhões de sacas.
A Associação de Cafeicultores do Brasil (Sincal) alertou que, diante de baixos estoques globais do grão, não há nenhum país produtor capaz de suprir déficits da commodity no mundo a não ser o Brasil, o que pesa sobre a ameaça norte-americana, pois os estoques são baixos também nos armazéns dos importadores.
“Sob minha ótica, a safra do café arábica, somada à do conilon, deverá girar em torno de 45 a 50 milhões de sacas. Dentro desse contexto, deveremos ter um déficit de aproximadamente 20 milhões de sacas de café. Nenhum dos outros países produtores é capaz de suprir esse déficit”, disse Armando Mattiello, presidente do Sincal.
Ele lamenta que as grandes cooperativas, com raras exceções, baixaram propositalmente os preços bem antes do início da safra, o que leva à conclusão da entidade de que “comercializar e depositar café em algumas grandes cooperativas não é o mais indicado”.
Efeitos a longo prazo
Apesar dos impactos iniciais, Morya avalia que ainda é cedo para mensurar os efeitos de longo prazo da medida. “Será crucial observar se a tarifa será implementada integralmente e por quanto tempo permanecerá em vigor. Essa medida pode reconfigurar os fluxos do comércio internacional de café, com impactos para produtores, exportadores e consumidores.”
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