O forte desempenho do IPPA-Cana-Café foi o grande destaque do mês, entenda os motivos a seguir
Setembro trouxe um cenário de contrastes para o agronegócio brasileiro. Enquanto alguns setores sentiram uma leve pressão de baixa, outros mostraram fôlego e garantiram um resultado positivo para o produtor rural.
De acordo com o mais recente levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o Índice de Preços ao Produtor de Grupos de Produtos Agropecuários (IPPA/CEPEA) subiu 0,42% no mês. Mas o que está por trás desse número? A resposta está, principalmente, na expressiva valorização de duas culturas fundamentais para a nossa economia: a cana-de-açúcar e o café. O resultado positivo do indicador geral foi garantido pelo avanço de 4,48% no grupo que une essas duas potências, o IPPA-Cana-Café, mostrando mais uma vez a resiliência e a complexidade do campo.
O que explica a alta do IPPA-Cana-Café?
Para entender o avanço do índice geral, precisamos olhar com atenção para os protagonistas do mês. O indicador IPPA-Cana-Café reflete as variações de preços recebidos pelos produtores dessas duas culturas. A alta de quase 4,5% em apenas um mês não acontece por acaso e é resultado de uma combinação de fatores de mercado, tanto internos quanto externos. Esses movimentos impactam diretamente a rentabilidade do produtor e, consequentemente, toda a cadeia produtiva, chegando até os preços de produtos como o açúcar, o etanol e o cafezinho nosso de cada dia.
No caso do café, a valorização pode ser atribuída a uma demanda internacional aquecida, que continua valorizando o grão brasileiro pela sua qualidade e volume. Além disso, questões climáticas em outras regiões produtoras do mundo podem gerar incertezas sobre a oferta global, favorecendo os preços do nosso produto. Já a cana-de-açúcar vive um momento impulsionado pelo mercado de açúcar, que segue com cotações elevadas no exterior, e pela demanda firme por etanol no mercado doméstico. A competitividade do biocombustível frente à gasolina é um fator decisivo para a remuneração da cana destinada às usinas.
Grãos e Hortifrútis em cenários distintos
Enquanto o IPPA-Cana-Café puxava o índice para cima, outros setores importantes apresentaram leve recuo. O IPPA-Grãos, que engloba gigantes como soja e milho, registrou uma queda de 0,88% em setembro. Essa variação, embora pequena, reflete o comportamento do mercado global. A expectativa de uma boa safra nos Estados Unidos e as projeções otimistas para o plantio da safra de verão no Brasil podem ter colocado uma pressão vendedora sobre os contratos futuros, influenciando os preços no mercado físico. Para o produtor de grãos, é um momento de atenção para gerenciar custos e traçar estratégias de comercialização.
O IPPA-Hortifrutícolas também teve uma leve baixa de 0,26%. Este é um setor conhecido por sua alta volatilidade, sendo diretamente influenciado por fatores como clima e sazonalidade. Uma pequena variação mensal como essa pode ser considerada normal. No entanto, o dado mais expressivo é o acumulado do ano, que mostra uma queda de 15,04%. Isso indica que, ao longo de 2025, a oferta de frutas, legumes e verduras tem sido robusta, possivelmente recuperando-se de períodos de quebra de safra anteriores, o que acaba por pressionar os preços recebidos pelo produtor.
O setor de pecuária, medido pelo IPPA-Pecuária, mostrou estabilidade, com uma ligeira alta de 0,24%. Esse resultado sugere um equilíbrio entre oferta e demanda de animais para abate, tanto no mercado de bovinos quanto no de suínos e aves. No acumulado do ano, porém, o setor ainda registra uma forte alta de 22,89%, refletindo os custos de produção mais elevados e a demanda firme por proteínas ao longo do ano. Essa performance anual robusta, ao lado do excelente desempenho do IPPA-Cana-Café, tem sido crucial para a rentabilidade do agronegócio.
Um ponto interessante destacado pelo Cepea é a comparação com os preços da indústria. Enquanto os preços no campo subiram, o Índice de Preços por Atacado (IPA-OG-DI), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), recuou 0,25%.
No mesmo período, o IPA-OG-DI, indicador da FGV, recuou 0,25%, evidenciando que, em setembro, os preços agropecuários apresentaram desempenho superior aos dos produtos industriais.
Isso mostra que as dinâmicas de mercado que influenciaram o agro, especialmente a valorização do café e da cana, foram específicas do setor e não seguiram a tendência geral da economia, reforçando a autonomia e a força do campo.
O peso do dólar e do cenário internacional
O ambiente externo trouxe mais uma camada de complexidade à análise. Em setembro, os preços internacionais dos alimentos, medidos em dólares, caíram 0,70%. Somado a isso, o dólar se desvalorizou 1,46% frente ao Real. Matematicamente, isso deveria resultar em uma queda nos preços dos alimentos em nossa moeda. No entanto, a força dos mercados internos e a dinâmica própria de algumas commodities, como as que compõem o IPPA-Cana-Café, foram mais fortes, sustentando o índice geral no campo positivo. Para o produtor, isso significa que nem sempre a variação do câmbio se reflete diretamente e de forma imediata nos seus preços de venda.
Para entender melhor a composição e a metodologia desses indicadores, é sempre válido consultar as fontes primárias de informação, como o próprio Cepea. No acumulado do ano, a história é diferente: a valorização de 7,91% do dólar foi um fator chave para a alta de 13,74% no IPPA/CEPEA, mostrando como o câmbio é um elemento fundamental na formação de preços no médio e longo prazo para o agronegócio brasileiro, um setor essencialmente exportador.
O cenário de setembro, portanto, foi um mosaico de diferentes realidades dentro do agronegócio. A grande lição é que a resiliência do setor como um todo muitas vezes se apoia no desempenho excepcional de alguns de seus segmentos. A performance robusta do IPPA-Cana-Café não apenas compensou as leves quedas em outras áreas, mas também reafirmou a importância estratégica dessas culturas para a economia rural. Acompanhar esses movimentos é vital para que o produtor possa tomar decisões mais bem informadas, navegar pelas incertezas do mercado e garantir a sustentabilidade de sua produção.
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