Aos 20 anos, Orfeu amplia cultivo de café arábica orgânico e mira o exterior - Café Cotação


A mais de 1,1 mil metros de altitude, em terrenos montanhosos, a colheita de café cativa: máquinas operam em sincronia com os trabalhadores, que percorrem as fileiras de café a pé, planta por planta, atentos ao manejo exigido pelos grãos especiais cultivados pela Orfeu, na Fazenda Sertãozinho, em Botelhos, sul de Minas Gerais.

A colheita desponta, assim como os planos da Orfeu ao completar 20 anos de história. A marca avança em várias frentes: amplia as lavouras de café orgânico, prepara sua internacionalização e aumenta a capacidade da torrefação, instalada na fazenda de Botelhos, que produz café desde a década de 1940 e foi visitada pelo Valor. A prioridade da Orfeu é expandir o cultivo orgânico, que hoje ocupa 42 hectares dos 900 espalhados por três propriedades do grupo.

Cultivo e manejo de café na Fazenda Sertãozinho, do grupo Orfeu — Foto: Orfeu
Cultivo e manejo de café na Fazenda Sertãozinho, do grupo Orfeu — Foto: Orfeu

A empresa também trabalha para elevar a produtividade e ampliar a linha de cafés especiais a ser comercializada fora do Brasil, hoje o principal mercado do grupo. Para elevar as vendas de café torrado e moído ao exterior, este ano, a Orfeu acaba de abrir uma representação comercial no Chile. O empreendimento vai se somar ao escritório já existente na República Checa e à operação de e-commerce nos EUA.

Segundo o presidente da Orfeu, Ricardo Madureira, a estratégia, além de agregar valor ao produto, é aproveitar as possibilidades de blends especiais do terroir dos solos vulcânicos da região, que possui identificação geográfica desde 2023. A produção vem das três fazendas do grupo, todas no sul de Minas, em Botelhos, Poço de Caldas e São Sebastião da Grama.

O cultivo orgânico está espalhado entre as três, mas começou na Fazenda Sertãozinho, em 2014, quando foi implantado o primeiro talhão de manejo 100% orgânico para o café da variedade arara.

A ideia do plantio orgânico surgiu após a visita de um comprador japonês. Por ter gostado da bebida que experimentou, provocou a equipe da Orfeu: “Ele disse que se conduzíssemos a lavoura de forma orgânica, compraria todo o café”, lembra o agrônomo e gerente de operações da empresa Lucas Figueiredo.

Trabalhador peneirando café na fazenda da Orfeu — Foto: Orfeu
Trabalhador peneirando café na fazenda da Orfeu — Foto: Orfeu

Hoje, quase 11 anos depois do primeiro plantio, Figueiredo conta que os 42 hectares são referência para ir aumentando os manejos biológicos e orgânicos no resto da fazenda. Os talhões, afastados daqueles de cultivo convencional, são da variedade arara e adubados a um baixo custo, porque a Orfeu fabrica o próprio composto com os dejetos dos suínos e bovinos que cria livremente nos pastos que rodeiam os cafezais montanhosos..

Além de não conter produtos químicos no manejo, os cafés orgânicos precisam ter certificação do tipo de cultivo. A Orfeu tem a chancela da Ecocert e a certificação de sustentabilidade Rainforest Alliance. Afora isso, nesse cultivo, as plantas que ficam na borda das áreas plantadas — e servem de barreira contra pragas e doenças — não são comercializadas como orgânicas e são destinadas a outras categorias de produtos.

A produção do café orgânico da Orfeu é 100% mecanizada. A pulverização com biodefensivos e adubo orgânico é feita por drones. Os custos de produção do orgânico são mais altos que no cultivo convencional, apesar de não haver gastos com insumos químicos. “A adubação orgânica exige mais mão de obra”, afirma Figueiredo.

Como resultado desse maior custo, os preços do café orgânico são bem mais altos. De acordo com o monitoramento de preço da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), enquanto o quilo de café tradicional custava R$ 66,70 em junho, o valor do orgânico era 30% a 50% maior.

Além das certificações para o café orgânico, a Orfeu também está com a documentação que certifica as práticas de sustentabilidade aprovada nos parâmetros da EUDR, a lei antidestamento da União Europeia, conta Ricardo Madureira. Mesmo que ainda não exporte café ao bloco.

Outra aposta da Orfeu são as variedades “exóticas”, assim classificadas por serem híbridos genéticos, que passaram por testes e melhoramento para serem mais tolerantes a pragas, doenças e às mudanças climáticas.

Uma delas chama-se acauã e foi descoberta por um dos mais respeitados estudiosos de café do Brasil, José Matiello. Até microlete com o nome dele a empresa lançou. O rótulo é exposto junto com outros considerados icônicos pela Orfeu na sala de entrada da casa da Fazenda Sertãozinho. A coleção reconta a história da marca com as artes plásticas, a gastronomia e a literatura.

O grupo também atua junto com acadêmicos, abrindo as fazendas para pesquisa. Da relação com os pesquisadores, a Orfeu começou a plantar recentemente a siriema, variedade de grão com baixo teor de cafeína, algo visto como tendência de consumo no futuro pela empresa. São só 3 hectares plantados na Fazenda Rainha, em São Sebastião da Grama.

A propriedade é terreno fértil dos microlotes especiais do grupo, e onde é cultivado o café geisha. A saca desse café ganhou o Cup of Excellence de 2024, premiação considerada o Oscar dos Cafés. Foi vendida por mais de R$ 80 mil a um grupo japonês, e uma edição especial de 250 gramas chegou ao e-commerce por R$ 420,00.

Como o próprio nome diz, os microlotes são uma parte muito pequena do negócio, mas a Orfeu já é, de qualquer forma, uma das referências em café especial do Brasil. E deve seguir priorizando o segmento “horeca” — hotéis, restaurantes e cafeterias que possam absorver grãos de alta qualidade e sem defeitos, observa Madureira.

A repórter viajou a convite da Orfeu.



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