Não é novidade que a inteligência artificial tem impactado os mais diversos segmentos do mercado, inclusive o do café. Do cultivo à classificação, a tecnologia já é usada em maquinários e por degustadores profissionais. De antemão, a junção do café e IA tem otimizado operações e elevado os padrões de qualidade do grão. Antes de mais nada, a notícia é do site Exame.
Café e IA
No entanto, o projeto CoffeeClass, liderado por Ednaldo Ferreira, cientista de dados da Embrapa Instrumentação, é um exemplo positivo da integração do café com a inteligência artificial. A inovação nada mais é do que um sistema de imagens multiespectrais capaz de fazer uma análise da qualidade global do café.
Aliás, a partir de luzes específicas incidentes em uma amostra de café torrado e moído, um modelo de IA é ensinado a identificar características que só se revelam sob diferentes iluminações. Ainda assim, faz uma correlação com classes de qualidade.
“Em palavras mais simples, o CoffeeClass ‘enxerga’ no pó de café características que desqualificam o item e produzem uma bebida de baixa qualidade. Por exemplo, como excesso de grãos pretos, verdes, ardidos, cascas, brocados, velhos, entre outras não vistas a olho nu. Quanto maior a presença delas, menor a qualidade global do café”, explica Ednaldo. “E o contrário também é verdadeiro: quanto menor o conjunto de características desqualificadoras, maior a qualidade global. Esse paralelo permite obter boas predições para a qualidade global do café, que, pelo método tradicional, demandaria o preparo da prova da xícara.”
Benefícios da IA para o setor cafeeiro
A IA é facilmente adaptável a todas as áreas, incluindo o agro. E isso não é diferente na cafeicultura. Além da aplicação direta, focada na análise da qualidade na etapa final da cadeia cafeeira, como a tecnologia do “CoffeeClass”, ela também pode contribuir em outras etapas, como:
- Auxiliar na identificação de pragas e doenças;
- Colaborar na estimativa de produção a partir de imagens de drones e satélites;
- Ajudar na quantificação de defeitos dos grãos de café cru (café verde);
- Apoiar a melhoria do manejo de insumos agrícolas, incluindo a água (na cafeicultura irrigada).
Sobretudo, é importante lembrar que o especialista humano jamais será substituído. Contudo, as soluções integradas à inteligência artificial têm o objetivo de auxiliar os profissionais a fim de ampliar a escala operacional.
“O ‘CoffeeClass’ nasceu com o intuito de possibilitar uma triagem mais próxima ao consumidor, mas, a palavra final será sempre a do especialista. No caso da cafeicultura de precisão (no campo), as tecnologias baseadas em IA pretendem também alcançar os pequenos produtores que não têm acesso a um universo tecnológico que, muitas vezes, apresenta elevado custo. Não pensamos na substituição do homem, mas, na inserção de tecnologias inteligentes em contextos em que o próprio homem não pode estar sempre presente”, finaliza Ednaldo.
ABIC desenvolve protocolo com interface em IA
Por aqui, também apostamos no uso da inteligência artificial. Aperfeiçoamos o Protocolo Brasileiro de Avaliação Sensorial de Cafés Torrados por intermédio da IA. Desse modo, com um algoritmo criado para que as avaliações de cada atributo e descritor sejam consideradas. E, ao final, informe o estilo/perfil sensorial da bebida.
Aline Garcia, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital/Apta/SAA) é uma das participantes da concepção do Protocolo da ABIC. Ela compartilha que a inovação demandou o aprendizado supervisionado por meio de métodos estatísticos visando obter uma equação capaz de interpretar os dados das sensações de odor e sabor. Aliás, percebidos com a intenção de responder em qual estilo se enquadra determinado café.
“A grande vantagem é realizar o enquadramento do café em um determinado estilo a partir destas sensações. Ou seja, as intensidades das características e o levantamento das notas descritivas. E não mais se preocupar em pontuar o café após perceber estas sensações, o que evita alguns possíveis vieses. Os especialistas poderão avaliar o café com uso do aplicativo, que contém a ficha com todos os atributos e uma lista de notas descritivas para melhor caracterizar o café. Mas é importante lembrar que os avaliadores devem usar as escalas da mesma forma entre si. Por isso, precisam ser pessoas experientes ou treinadas, conforme as normativas da ABNT”, explica Aline.
Apesar dessa facilitação proveniente da inteligência artificial, é essencial que a qualidade do café ou suas características se mantenham na embalagem. Sendo assim, para transmitir ao consumidor as sensações preconizadas do estilo que se enquadra.
Perspectivas futuras
Por fim, entendemos que a incorporação da IA no setor cafeeiro está apenas no início. Com o avanço contínuo da tecnologia, é esperado que novas aplicações surjam. Sendo desde a melhoria genética de plantas até a personalização de blends para consumidores. Afinal, a tendência é que a inteligência artificial se torne uma grande aliada na busca por eficiência e excelência na produção de café.