Entre os alimentos que têm passado por aumento de preço expressivo, o café ocupa lugar de destaque. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o preço médio do quilo do produto no varejo praticamente dobrou nos últimos 12 meses: foi de R$ 29,62 para R$ 56,07. E, de acordo com especialistas do setor e economistas, o preço do café deve continuar subindo e ultrapassando os índices da inflação. Entretanto, por que isso acontece? É o que explica a reportagem da SuperVarejo.
Preço do café
De antemão, Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic, informa que uma combinação de diversos fatores tem provocado o aumento do preço do café. Desde 2021, a produção tem sido afetada por questões climáticas. Isso com períodos de geadas, seca intensa (reflexos do El Niño) e chuvas tardias e em excesso (reflexos do La Niña). O que afetou, dessa forma, a safra do Brasil e de outros países produtores como o Vietnã.
“Somado a isso, há o aumento da demanda global pelo café, as questões geopolíticas e, ainda, a variação do dólar. Com o princípio básico de oferta e procura, e por ser uma commodity negociada em bolsas internacionais, os preços da matéria-prima se elevaram exponencialmente. Assim, pressionando o custo da indústria, que precisa repassar o aumento para o varejo e, consequentemente, ao consumidor”, explica.
Boas perspectivas para 2026
Ainda segundo Inácio, considerando os aumentos acumulados da matéria-prima nos últimos meses e o valor que foi repassado ao varejo pelas indústrias, tudo leva a crer que haverá alguns ajustes entre 20% e 25% nos próximos meses.
“Fazer previsões é complicado. Mas, depois de abril, o mercado já terá um cenário de expectativa mais clara sobre a colheita deste ano e perspectivas para 2026. Tudo correndo bem, o mercado ficará mais otimista, o que irá favorecer melhores cenários de preços”, avisa o executivo.
Mercado produtor
Em contrapartida, Maurício Takahashi, docente de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville, observa que não existe consenso no mercado produtor sobre projeções em relação ao preço do café.
“De um lado, existe uma hipótese do preço começar a diminuir a partir do segundo semestre de 2025. Ou seja, dependendo de fatores como melhora nas condições climáticas, redução nos custos de produção e estabilização da demanda. De outro, a hipótese de que eventos inesperados sejam frequentes, assim como as condições climáticas adversas passem a ser o novo normal, e o pressuposto da demanda, ainda em alto crescimento, ao invés de estável faz com que as expectativas de preço sejam de alta”, diz.
Produtividade e oferta
Ademais, Matheus Dias, economista da FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), lembra que o preço para o produtor teve uma variação de mais de 120% em 2024. “E, quando a gente olha para o preço que é praticado para o consumidor, apesar de não ter uma alta tão intensa, ainda assim há um repasse dessa alta que o produtor teve”, conta.
De acordo com Dias, os preços não devem baixar tão cedo porque o mercado atravessa justamente o momento do ciclo em que a produtividade e a oferta são mais baixas. “A expectativa é de que, em 2026, caso não haja nenhum tipo de problema climático, a gente tenha mais oferta. E, consequentemente, preços menores. Porém, em 2025, a tendência é que os preços continuem subindo”, ressalta.
Bolso do consumidor
Na opinião de Takahashi, do Mackenzie, uma sugestão para a indústria minimizar o impacto no bolso do consumidor em possíveis repetições futuras desse cenário é, no longo prazo, investir em tecnologias que aumentem a eficiência na produção. E, ainda, a distribuição do café para ajudar a diminuir os custos e o preço para o consumidor.